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juro que cada dia que passa admiro mais e, ao mesmo tempo, entendo entendo menos algumas mães.
admiro sobretudo as mães que trabalham fora de casa 8 a 10 horas por dia e depois, incrivelmente, ainda cai sobre as suas costas:
sinceramente, não sei como a maioria do mulherio não se passa dos carretos, manda tudo ao raio que parta e sai a rapar o cabelo, numa espécie de breakdown britney spears.
e talvez seja por isso que a maioria é tão azeda, tão prontinha a dizer "ai, se fosse eu".
fazemos o mesmo umas às outras e é por isso que a lista acima é cada vez maior, não é?
porque mesmo passando por tudo aquilo que enumerei acima, a verdade é que a maioria das mães tem estabilidade financeira que lhes permite comer e dormir debaixo de um teto; tem uma almofada fofa e quente onde chorar e dormir; tem acesso a cuidados de saúde (por pior que esteja o SNS acaba por ser muito bom) para si e para os seus filhos; tem acesso a alimentação diária; tem acesso ao mais básico do ser humano: ser visto como ser humano e não um pedaço de lixo.
e mesmo assim essas são as primeiras a apontar o dedo, exigindo a morte e as chamas eternas do inferno a uma mulher que abandona um filho no lixo.
vi centenas de posts de mulheres a pedir a morte para aquela mulher.
não vi nenhum de um homem.
foram as mulheres que sem dó nem piedade, acusaram, julgaram e nem por uma vez pensaram em questões básicas como:
os primeiros 3 meses de vida do meu miúdo foram os mais difíceis da minha vida.
e eu tive acesso a tudo e um par de botas, incluindo toda a ajuda necessária e conhecimento amplo das coisas.
e mesmo assim houve dias que só me apeteceu fugir, desaparecer e abandonar tudo.
colocar uma criança recém nascida no lixo é um ato hediondo. concordo.
mas todos os atos, mesmos os hediondos, devem ser vistos à luz das circunstâncias.
e é pena que as mães que às vezes se queixam da vida, do cansaço, da incompreensão dos outros;
que se martirizam com a culpa de não serem melhores;
que se queixam porque não conseguem colocar os meninos na música, no inglês, no karaté;
que se culpam por não passar 3 horas com eles, por não lhes poderem dar uma alimentação de 5 frutas variadas e peixe ao almoço e carne ao jantar;
as mesmas mães que nunca viveram na rua, que não sabem o que é sentir-se como lixo a dar vida a lixo, sejam as primeiras a exigir o fogo eterno do inferno, a morte a uma pessoa que não teve as mesmas oportunidades, incluindo aquela oportunidade de dormir numa cama, comer uma refeição diária quente e não ter de parir no meio da rua, como uma cadela sem dono.
acreditem:
o vosso heroísmo como mães, a vossa argumentação "mas eu passei por muito e nunca faria tal coisa, mas eu sofri horrores e sempre pus o meu filho à frente de tudo" vale zero. vale nicles. vale nada.
essa argumentação, esse sentimento é uma valente monte de merda quando não têm a capacidade de se colocar, por uns segundos, na pele de alguém que é vista, pela sociedade, com menos atenção, menos valores, menos direitos do que um cãozinho de raça
incrível. gostam tanto de criancinhas mas detestam seres humanos.